O Botafogo ainda não tem uma resposta e ainda não sabe se o técnico Luís Castro fica ou não no comando do clube, após o português receber uma proposta de um caminhão de dinheiro do Al-Nassr. A expectativa era que a definição saísse nesta última terça-feira, mas a resposta de Castro ficou para depois.
Abaixo, confira a opinião de alguns jornalistas e comentaristas sobre essa situação de Luis Castro com o Botafogo.
Jornalistas e Comentaristas falam sobre possível saída de Luis Castro
Abaixo, veja alguns comentários de profissionais esportivos sobre a negociação de Luis Castro com o Al-Nassr e sua possível saída do Botafogo.
Milly Lacombe, UOL
Tem coisas que só acontecem com o Botafogo, dirão os torcedores mais apaixonados e conformados. Perder o técnico quando está ganhando poderia ser uma dessas coisas. Técnicos saem nas fases ruins, mas nas boas é bastante raro, raríssimo. Sair depois de levar o time à liderança isolada de um dos campeonatos mais disputados do mundo, depois de reinserir o clube em um lugar de destaque e de orgulho, é inédito.
Luís Castro sempre falou com bastante lucidez sobre o envolvimento do dinheiro e do jogo. Criticou o preço dos ingressos, entendeu um estádio que não estivesse lotado mesmo com o time em fase delirante, sugeriu que há mais coisas na vida do que riqueza. Mas agora os petrodólares de um desses times árabes falam alto. CR7 telefona. O mundo chacoalha. Quem sou eu para dizer o que fazer numa situação dessas? Quero acreditar que eu seria fiel a meus princípios se me visse diante do dilema de Castro: acharia que ganhar muito bem basta, que não é preciso acumular uma riqueza obscena para existir nesse mundo.
Hoje cedo, caminhando com a cachorra perto do centro de São Paulo, cruzei com um camarada que usava uma camisa novinha do Botafogo e pensei que o impacto do trabalho de Castro talvez seja bastante maior do que ele perceba. Fazer circular esses afetos é tão ou mais importante do que levantar taças. A história que Luis Castro está escrevendo no Botafogo é linda, potente, memorável e não deveria ser interrompida. Que o treinador português decida seu destino movido pela emoção e guiado pelo coração. Costuma não dar errado.
Quando ele tem a chance de falar sobre essa associação futebol e dinheiro, ele sempre fala coisas muito coerentes. Uma vez, quando foi perguntado porque o estádio não estava cheio, ele falou que o preço estava caro, que ele não cobraria o torcedor, falou até da Revolução dos Cravos. Parece uma pessoa muito coerente em relação ao que pode o dinheiro dentro do futebol. Aí ele faz o que vem fazendo no Botafogo, é algo histórico, tem afeto que está sendo colocado em circulação que ele não tem noção. Aí vem uma proposta desses caras que hoje são os donos do mundo, com seus petrodólares, com um plano de fazer o Oriente Médio ser o centro do mundo. Essa gente, se tiver que desviar um rio para fazer um largo particular, esse vão fazer. Eles querem mais, mais dinheiro, o imperativo moral categórico é sempre mais. E eu gostaria que o Luís Castro não caísse nessa. Eu gostaria que ele dissesse: “O que eu ganho está bom”. Agora, é bem difícil, porque a proposta não foi feita para mim.
Eduardo Tironi, UOL Esportes
Eu não vou pensar com o bolso de ninguém, mas é um contrassenso com o que ele mesmo pregou desde que chegou. Ele disse que aqui no Brasil não respeitam os trabalhos, não dão tempo para os treinadores, mas o cara está tendo tempo e agora vai falar “obrigado e tchau?”. Eu acho um contrassenso com o que ele mesmo ficou defendendo quando ele chegou ao Brasil.
Arnaldo Ribeiro, UOL Esportes
Vai completamente de encontro ao que ele vem pregando nas entrevistas sobre as práticas do futebol brasileiro, de clubes rompendo contratos com os treinadores. Os treinadores também rompem contratos. Ele vai dirigir o time contra o Magallanes quinta-feira, mas essa espera, essa ausência já mexeu com o botafoguense e com o Botafogo.
Castro já esteve lá (Oriente Médio), já trabalha com futebol há um tempo, tem uma vida bem confortável, assinou um contrato com o Botafogo e tem que cumprir. Eu não esperava essa indecisão dele. Se isso fosse com o Abel Ferreira do Palmeiras, a gente já estaria metendo o pau aqui. Existe, pelo comportamento, uma simpatia ao Luís Castro e uma antipatia ao Abel.
Lédio Carmona, SporTV
A maior forma do Botafogo tentar convencê-lo, e ele sabe disso, é a possibilidade concreta de ser campeão brasileiro. É importante. Uma proposta do Al-Nassr, ou de outro clube, daqui a pouco aparece de novo. Se o Botafogo não estivesse nessa posição ele já teria aceitado.
Júnior, SporTV
Para o projeto do Botafogo, a saída dele agora é um tremendo desastre. Foi ele que passou no começo do ano todo aquele sufoco, levou todas as pancadas, na época em que o Botafogo abriu mal o Carioca para poder se preparar. O que ele tomou de pancada não foi fácil, não só de quem analisa mas também da própria torcida. Será que isso não vai ter um peso agora também, se por acaso tiver uma oscilação no Botafogo? Tem uma série de componentes. A questão financeira tem um peso muito grande, mas acho que o fato do Campeonato Saudita não ser mais um campeonato de prateleira lá em baixo, isso também tem um peso, ele não vai ficar largado lá.
Luiza Oliveira, UOL News Esporte
A falta que o Luís Castro faria ao Botafogo sem dúvida é enorme, porque a mão dele no trabalho é visível. Como ele conseguiu um equilíbrio desse time, a gente percebe um time com uma confiança muito alta e uma mentalidade positiva, ainda mais para um time que passou por dificuldades no início da temporada, ele próprio disse isso. E, em campo, a gente vê um time muito mais equilibrado, conseguiu uma solidez defensiva também muito importante, tanto que tem a defesa menos vazada do Campeonato Brasileiro, tem um meio de campo com uma rodagem importante e tem um jogador na frente, o Tiquinho, que resolve jogos.
Ele conseguiu potencializar alguns atletas, então tudo está convergindo, é aquele bom momento em que tudo dá certo e uma possível saída dele, quebrar isso, criaria muitas dificuldades. Quem assumiria, quem conseguiria manter o estilo e a filosofia de trabalho? Seria uma troca muito delicada, uma troca muito difícil. Além das questões de campo desse Botafogo, que é muito entrosado e versátil, sabe jogar de acordo com o adversário, como é que fica a confiança, que impacto uma saída de uma liderança tão importante, como ficariam esses jogadores órfãos?
Éric Faria, Globo
Óbvio que essa dúvida do Luís Castro traz bastante preocupação e alguma tristeza pro torcedor do Botafogo. Mas esse estresse não pode ser maior do que o orgulho, a satisfação e até a esperança pela campanha do time até aqui. Não pode esfriar. É uma ‘guerra’ de sentimentos mesmo”, escreveu Eric Faria, na rede social, destinando a mensagem à torcida do Botafogo.